quinta-feira, 9 de julho de 2009

Naquela noite...

Enquanto os amigos se divertiam a ouvir musica e a admirar as luzes azuis do carro, ela sentia uma urgência de sair dali. Queria ir-se embora, naquele dia sentia que não pertencia ali. As conversas, os risos, nada fazia sentido na cabeça dela. Só queria sair dali.
Eles não se apercebiam de nada e continuavam a admirar o tunning... Queriam levá-la a casa, mas ela só queria sair dali. Sair, correr, fugir. Eles insistiam mas na primeira oportunidade que teve foi-se embora sozinha.

Estava escuro como breu, mal conseguia ver o caminho para casa. A lua cheia lá no alto tentava dar alguma claridade ao caminho sinuoso que calcorreava por entre as árvores. Sem saber porquê começou a ficar amedrontada.
Já tinha feito aquele caminho vezes sem conta, tantas noites andara sozinha por ali e nunca tinha reparado naqueles barulhos estranhos. O bater das chapas de metal do armazém pré fabricado, o uivar do vento, o ranger das árvores, parecia-lhe tudo tão estranho.

Seria o caminho que estava diferente ou ela? Tendo em conta os acontecimentos da noite, o não conseguir enquadrar-se com os amigos, o desespero em querer desaparecer e estar sozinha, se calhar era mesmo o caminho que estava diferente. Ela continuava igual a si mesma, estranha, desenquadrada, com pressa de não chegar a lado nenhum.
Mas naquela noite algo estava diferente. E ela tinha medo. Cada vez andava mais rápido, mais rápido.

Ao chegar à entrada do prédio já corria e olhava para trás desconfiada. Mas, como é óbvio, não vinha ninguém atrás dela. Não havia vivalma naquela rua que continuava sombria e assustadora. Tudo lhe parecia diferente, naquela noite. Enquanto lutava com a fechadura para conseguir abrir a porta a sua respiração tornava-se cada vez mais ofegante, hiperventilava, não percebia porquê.
Só queria entrar e não conseguia. A porta não abria e ela já se sentia sem forças, completamente impotente, tremia.
Só queria entrar, só queria sentir-se novamente em segurança. Só queria voltar a sentir aquele abraço forte que lhe tirava todos os medos. O que tinha mudado naquela noite?

Alguns minutos depois, já estava cega pelo terror de, talvez, nunca conseguir entrar e finalmente a porta abriu-se. Entrou no prédio a correr, subiu os vários lanços de escadas a correr mais, cada vez corria mais, cada vez mais ofegante. Queria voltar a sentir-se segura, não queria sentir medo.
Medo nem sabia do quê, mas sentia que algo estava diferente. Naquela noite tudo mudou. Quase caia enquanto corria escada acima, parecia que o seu piso nunca mais chegava, parecia que as escadas eram cada vez mais e os degraus cada vez maiores. Pelo menos já não estava escuro, já não havia barulho. Os únicos barulhos que conseguia ouvir eram os seus passos atabalhoados escada acima.

Finalmente chegou ao seu andar, chave na mão... mais uma luta com a fechadura. Desta vez foi mais fácil, já não tremia. Entrou em casa e a correr fechou todas as janelas e estores. Precipitou-se para a cama, agarrou a almofada com toda a força que ainda lhe restava, apagou a luz, fechou os olhos e dormiu na escuridão do silêncio.

Mesmo sem perceber, algo tinha mudado naquela noite. E não eram os amigos, o vento, as árvores, a rua, a lua. Era apenas ela...

2 comentários:

Isaac Marinho disse...

Excelente do começo ao fim!


É sempre bom te ler. =)

Até a próxima!

Abraços.

Mãe Jo disse...

É sempre bom receber a tua visita :)

Até à próxima!

Beijos