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Foto: AFP

Sábado de "manhã", acabadinha de acordar com a minha caneca favorita cheia de um café fumegante e bem cheiroso. Um cigarro numa mão, a caneca na outra... aquela imagem que me define em qualquer manhã.

Um golo no café, pousa-se a caneca para premir umas quantas teclas... o cigarro já se adapta anatómicamente à outra mão e por isso escreve-se, fala-se e pensa-se...

Depois de pagar as ultimas continhas que faltavam, há tempo para fazer um balanço... um pequeno balanço... da minha vida... da nossa vida... do pais... e do mundo.

Chego à conclusão que, apesar da crise, nem tudo é mau!
Penso que me vou conseguir "orientar" muito bem com os trocos que sobram até ao fim do mês... penso que sou feliz... e que talvez devesse trabalhar um bocadinho esta tarde... sim! que aquela empresa não pára... penso que não me posso queixar muito e penso que não posso deixar de reflectir sobre o que se tem passado por cá e por lá nos últimos tempos.

Por cá, encontraram uma senhora morta em casa há 9 anos... chocante? Sem duvida!
A ser verdade tudo o que li... Como é possível alguém não se importar com o facto de uma familiar (por mais remota que seja, mesmo que nunca a tenhamos visto) possa estar morta em casa e não se fazer nada? Como é possível uma pessoa deslocar-se à policia, dizer que não vê a vizinha há mais de três meses ou anos, que as cartas da reforma continuam a chegar e não levantadas e ouvir como resposta um - não podemos fazer nada - ou um - se estivesse morta lá dentro, já tinha sentido o cheiro - ? E muito mais haveria para questionar e dizer sobre esta questão... mas já estou demasiadamente deprimida só com este bocadinho...

Por lá, Mubarak finalmente abandonou o poder. Que futuro para o Egipto? Que futuro para o Médio Oriente? Que futuro para o mundo?
Não posso deixar de ficar contente pelo facto de, desta vez, o povo ter tido uma palavra a dizer. Não consigo deixar de esboçar um sorriso quando mencionam a importância que as redes sociais estão a ter nestas "novas revoluções". Não consigo deixar de ficar estonteada com a quantidade de pessoas que festejaram no Cairo. Não consigo deixar de me interrogar de como é possível tanta gente viver tão insatisfeita durante tanto tempo e não fazer absolutamente nada...

E aqui começo a denotar onde está a diferença entre a minha vida, a nossa vida e a vida deles ou de todos nós, de um país ou do mundo... A apatia com que aceitamos a incerteza, a infelicidade, a pobreza... a forma como desistimos perante uma pequena corja de audazes que pensa que pode dominar o mundo...
Se eu consigo melhorar a minha vida como pessoa, como indivíduo porque me esforço, porque não desisto, porque acredito, porque luto contra aqueles que me pretender dominar, calar ou oprimir.
Se tu, também, o fazes individualmente para ti... Se os outros o fazem...
Porque raio é que não o fazemos todos juntos para melhorar o mundo?

Entretanto já não há café e já me apetece outro cigarro...