domingo, 22 de novembro de 2009

Deixa-me entrar

Sempre que venho para casa tenho de entrar no prédio e subir para o meu andar. Para uma pessoa de rotinas não há nada mais rotineiro do que isto. Chegar à rua. Estacionar o carro, de preferência, naquele lugar que mais gostamos. Procurar as chaves. Passar vergonhas, nos dias em que é necessário retirar todo o conteúdo da mala para as encontrar encontrar. Abrir a porta, subir as escadas ou esperar pelo elevador. Abrir a porta e... finalmente... ENTRAR!
Entrar no nosso mundo. Os nosso domínios. aqueles que não sofrem influências externas, de estranhos ou menos estranhos. As coisas que deixámos vão estar exactamente como as deixámos, a não ser que se tenha dado o furacão "mãe" ou "empregada doméstica". Ali onde nos sentimos bem.
Mas se pensarmos bem não é tão rotineiro assim. Todos os dias em que opto por subir a pé pelas escadas em vez de apanhar o elevador consigo descobrir um sentimento diferente. Consigo definir todo esse dia pelos pensamentos e sentimentos que afloram o meu cérebro à medida que subo aqueles degraus e me indago se o sensor da luz está a funcionar e se ela vai acender ou não. As histórias que consigo imaginar ao subir aquelas escadas, naqueles breves instantes.
Costumo dizer que não tenho imaginação, o que na maioria do tempo corresponde à verdade. Mas estas escadas permitem-me pensar que para ter imaginação basta dar-lhe asas. E devo dizer que estas escadas já me proporcionaram verdadeiros momentos de terror dignos de um grande filme... Pena achar que só o são naquele momento em que são imaginadas, quando parecem passar numa tela à frente do meus olhos. São sentimentos, emoções... coisas que dificilmente conseguiria transmitir com a minha pseudo-escrita. Apenas me permito imaginá-las antes de entrar em casa.

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